Emma Forrest, a loucura e todos nós

emmaforrestNão costumo ignorar quando um livro aparece na minha frente de maneiras misteriosas. Foi assim que dei de cara com “Sua voz dentro de mim”, lançado aqui no Brasil pela editora Rocco há uns meses. Olhei rapidamente a orelha e vi que era a história de uma jornalista/roteirista atormentada. Gosto de histórias deste tipo (sobre jornalistas atormentados) porque elas funcionam de duas maneiras:

1. Como alerta: “veja o que pode acontecer com você se der um passo errado”

2. Como alento: “você deu o passo certo, então veja do que você escapou”.

Resumindo, Emma Forrest era uma jovem perturbada desde a adolescência. O problema se agravou quando adulta, diante do mundo cruel e real que tá aí à espreita, né, senhores, todos os dias. Tentou se matar, não logrou êxito (hoje ela conta, no Twitter, detalhes sobre a rotina de seu bebê de três semanas de idade). Conheceu um astro de cinema depois de fazer uma visitinha ao fundo (falso) do poço, e achou que estaria vivendo o seu filme. O filme bom da sua vida – bem, ela não disse isso, eu é que vi assim. Sabe quando tudo dá errado e você acha que sua vida é um filme daqueles bem desgracentos, tipo aquele em que a Claire Danes e uma amiga são presas num país exótico (esqueci o nome e tô com preguiça de googlar, então me desculpem)? Aí acontece uma coisinha boa e o cenário do seu filme pessoal já muda para um lindo dia no Central Park, lotado de crianças e balões coloridos.

Emma Forrest achou que não só o cenário como também o roteirista do seu filme pessoal tinha mudado ao conhecer seu Marido Cigano – ninguém menos que Colin Farrell. Como ele era/é mais doido que a pobre moça, o lance logo dá errado e a cabeça dela opera como se mudasse de canal para um filme pior que o original (mais ou menos como quando você está assistindo a uma reprise de “Law & order SVU”, de um episódio que você já viu, sabe como termina, mas ainda assim assiste).

No Google e nos tabloides (ela é britânica, radicada em Los Angeles. Nota mental: ser alguém um dia de quem se diga “fulana, roteirista radicada em Los Angeles”), os comentários gerais classificavam o livro como um relato da relação dos dois. Acho que Emma foi até gentil e delicada ao não espinafrar Farrell de todas as formas em público, narrando apenas os fatos, e só eles, desse namoro. Mas assim que terminei de ler (o que levou o que, uns dois ou três dias) vi que esse era dos temas menores do livro. Farrell não era o homem da vida de Emma: o homem da vida de Emma era seu analista, que a acompanhou por anos, nas fases de crise e nas fases boas e que, sem ela esperar, morreu por conta de um câncer (o “sem ela esperar” tem a ver com o fato de ninguém, nenhum paciente, saber que ele estava doente). Ele era casado, tinha filhos e os dois não tiveram qualquer tipo de relação romântica ou platônica.

O analista era o homem da vida de Emma, e não o ator de Hollywood. O fato de ela falar abertamente de suas loucuras incomoda muita gente. Acho interessante, porque não é o tipo de coisa sobre a qual costumamos pensar. Tenho as minhas aqui comigo e espero  que elas se comportem quietinhas (minha grande neurose sempre foi o pânico de, um dia, ficar maluca. Mas ao contrário de Emma, não gosto de falar disso. Acho que atrai, sei lá).

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