Manual da Jovem Descapitalizada: sobrevivendo ao fim do mês

Admita: você já passou por isso. Todas passamos. Depois daquelas férias incríveis, depois daquele mês de shows maravilhosos, daquele vestido baratinho parcelado em 3 vezes sem juros no cartão… A fonte seca. Aquele dinheiro que deveria entrar não entrou (vida de freela é difícil, é difícil como o quê…), aquele desconto foi maior do que o esperado – tem que doar quase metade do seu salário pra esse INSS mesmo? – , aquele reembolso que nunca saiu… Eis a situação: falta uma semana para o próximo salário e você, jovem amiga dona de casa, precisa cantar, dançar e sapatear com aquele troquinho que ficou no fundo da carteira, formado basicamente por notas amassadas resgatadas em suas calças jeans e em suas bolsas, já que sua conta bancária está até brilhando de tão limpa. Não entre em pânico: é possível sobreviver ao fim do mês.

Existem 3 modalidades na categoria Sobrevivência em 7 Dias. A saber:

a) Keep calm and carry on – seu total até o próximo salário é de R$ 120. Se você se inclui nesta categoria, vá lavar uma louça e pare de tripudiar de todas nós. Seu lugar não é aqui.

b) Keep calm and have a  cupcake – total de R$ 80. Mais de R$ 10 por dia? Pelo amor de Deus, você tem aí uma pequena fortuna. Seja sábia e você chegará ilesa até o próximo salário. Dá até pra comprar um cupcake. Mas um só – é bom, você exercita o autocontrole e engorda menos, amiga.

c) I will not keep calm and you can fuck off – R$ 50 até o fim do mês. Essa é a nossa vida, esse é o nosso clube. Se você chegou até aqui, vem comigo!

“Como passar 7 dias com R$ 50?”, você deve estar se perguntando. Calma, jovem descapitalizada. Classe média sofre, mas tudo é possível.

– Transporte: a esta altura do campeonato, suponho que você tenha RioCard, Bilhete Único ou qualquer coisa que o valha. Ou seja: um gasto a menos. Não recomendo tentar ser espertinha e pensar em vender os créditos em busca de dinheiro vivo: não pagam tão bem, entre outras mazelas. Caso você não tenha os cartões, meu conselho: vasculhe todos os cantos de sua casa em busca daquelas moedas de cinco centavos que sempre ficam espalhadas por aí e que você esnoba quando está rica. Faça montinhos no valor da passagem. Feche com durex. Tenho certeza que atrás da sua cama tem moeda suficiente para ir e voltar de ônibus (comum, esqueça o frescão e o metrô) por pelo menos 3 dias.

– Alimentação: suponho que, para o almoço, a jovem tenha ticket-refeição (resista à tentação de beber os tickets no começo do mês) ou bandejão na firma, então vamos nos ater ao jantar. Passe no mercado e compre pacotes de Doritos e um refrigerante de dois litros e meio de sua preferência (light é sempre mais recomendado, né?). Um pacote de Doritos = um jantar. Opção para intercalar, caso a amiga more no Rio: misto quente ou cheeseburguer daquelas suquerias que existem em qualquer esquina, estilo Big Bi. Um cheeseburguer: R$ 5. Não peça para entregar em casa, economize a taxa e queime calorias antecipadamente caminhando até a lanchonete.

Alternativa para um dia de luxo, em que você está, tipo assim, querendo ostentar e se sentir bem diante da vida: vá à Parmê mais próxima e escolha um entre os vários combos disponíveis. Duas fatias de pizza + um refrigerante, ou uma lasanha + um refrigerante, ou uma fatia + refrigerante + doce… Gasto máximo: R$ 10. Outra opção arriscada é pedir a maior pizza na pizzaria mais barata da vizinhança e se alimentar dela pelo resto da semana. Considere como um investimento.  Ah, sim: se você for uma mulher precavida, também terá lasanhas congeladas compradas por R$ 5 na promoção do (insira aqui o nome do supermercado mais barato da sua cidade) já pensando nesta semana da sua vida.

“Ahn, mas eu quero ser saudável, não quero comer bobagens”. Minha filha, você tem R$ 50 para passar uma semana. Se ainda assim você tiver vontade de comer alface, você é uma heroína. Eu camuflaria minha vontade de me jogar da Ponte Rio-Niterói degustando uma engordativa pizza. Alguma alegria há de se ter na vida.

Saídas noturnas: aquela socialzinha com os amigos é possível. Se passar em casa antes: jante. Chegando lá, peça apenas um refrigerante. Não peça um chope, do contrário o Efeito Elma Chips (“é impossível comer um só”) estragará seu planejamento. Ao sair, seja fina e deixe R$ 5 na mesa – nada mais cafona e pobre que deixar o valor exato da bebida. Você não tem dinheiro, mas é educada e limpinha.

Caso a social seja após o trabalho, sem tempo de passar em casa, minha recomendação é simples: peça um refrigerante e um belisquete único no cardápio. Não peça um sanduíche caro. Peça um caldinho. Ou um pastel. Não peça um petisco junto com os amigos: você vai comer pouco e vai sair caro – porque obrigatoriamente um segundo petisco será pedido. E sempre tem alguém que pede comida e não paga. É impressionante. Você não tem dinheiro, mas tem dignidade e, se isso acontecer, honrará com sua parte na conta e terá prejuízo. Portanto, controle a sua conta. E, na hora de voltar para casa, saia cedo para poder ir de ônibus. Táxi é um luxo do qual você não pode dispor nesta semana.

– E o fim de semana? Você vai ficar em casa, bundeando na internet, e a quem perguntar dirá que está arrumando o armário e separando roupas para doação. Omita que a sua intenção era essa, mas que na segunda gaveta você se deprimiu com a falta de dinheiro, abriu o último pacote de Doritos, sentou diante da TV e emendou 3 filmes no Telecine vestindo ainda pijamas.  No domingo, permita-se uma ida à rua e gaste seus últimos reais com algo diferente do que você comeu nestes dias. Volte para casa e durma vendo TV.

Viu como você consegue sobreviver ao fim do mês? Não requer prática, nem tampouco habilidade. Seu salário já está na conta? Pague o aluguel e prometa nunca mais pecar. No próximo capítulo do Manual da Jovem Descapitalizada, abordaremos o tema “DÉCIMO TERCEIRO, SEU LINDO, FICA AQUI MAIS UM POUQUINHO”. Aguardem :D

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