Aquele episódio 5 de ‘Girls’

shewantsall

Tô há dias pensando, e lendo, e digerindo e refletindo sobre este quinto episódio da segunda temporada de “Girls”.

Muita gente não gostou; eu adorei. É o tipo de episódio que leva a várias reflexões.

Costumo prestar atenção nas séries com o olhar de pessoa normal, de jornalista e roteirista. Este episódio me cativou nas três frentes, mas principalmente na primeira.

Este artigo do Jezebel é muito oportuno: rebate, de cara, um aspecto levantado pela maioria dos homens que eu conheço – o excesso de nudez de Lena Dunham. Tenho certeza de que, fosse Anna Paquin em cena, as reclamações cairiam pela metade. Como disseram o rapazes da Slate: “How can a girl like that get a guy like this?”. E ainda perguntam: “Was that the worst episode of Girls ever?”. Seria o pior episódio porque uma garotinha petulante, gorducha e sem vergonha das suas banhas ousou achar que poderia ter algum tipo de relação com um cara bonitão, mais velho e bem-sucedido? Nas entrelinhas, é isso que eles estão dizendo. Bom, nem tão nas entrelinhas assim.

“How can a girl like that get a guy like this?”. Senhor, por onde começar ao ler isso?

Fico me perguntando como homens capazes de pensar e escrever isso em público são no plano particular. Como tratam suas namoradas. E como tratam mulheres em geral. Mas Tracie Egan Morrissey – que assina o tal artigo do Jezebel de que falei – explica melhor que eu, que às vezes prefiro calar para não falar o que não devo.

 It’s not enough to simply acknowledge that, like the Slate guys, you’re prejudiced against the idea of a physically imperfect woman being able to enchant a hunk like Joshua. You should be asking yourself why that is. Because if we’re going to talk about privilege when we talk about this show, then we should talk about privilege in all respects: like how value is assigned to a woman by how she looks. And how that valuation determines the level of bullshit that people will tolerate from her.

Isto posto, o que me fez pensar foi exatamente a cena da ilustração acima (créditos para Alex Bedder, do New York Observer). O diálogo:

– Please don’t tell anyone this, but… I want to be happy.

– Of course you do. Everyone does.

– Yeah, but I didn’t think that I did. I made a promise such a long time ago that I was gonna take in experiences, all of them, so that I could tell other people about them and maybe save them, but it gets so tiring… Trying to take in all the experiences for everybody, letting anyone say anything to me. Then I came here… And I see you. And you’ve got the fruit in the bowl and the fridge with the stuff… The robe, and you’re touching me the way that… I realize I’m not different. You know? I want what everyone wants. I want what they all want. I want all the things. I just want to be happy.

Reconhecer que não é diferente dos outros por seus desejos serem exatamente iguais aos do resto do mundo, quando se tem 20 e poucos anos, é mais ou menos assim mesmo. Só um lembrete para quem não passou por isso – ou prefere esquecer que o fez. (Nota: a expressão life-changing experience também se aplica a esta situação – e a situação do episódio).

E admitir isso, seja na vida real ou na ficção, seja uma pessoa de carne de osso ou uma personagem, é uma das coisas mais difíceis do mundo. A sensação que tenho é que hoje em dia ninguém quer nem pode parecer vulnerável ou frágil, e ver o outro nesta posição provoca ojeriza porque nos lembra de nossa própria fragilidade.

Também poderia falar por horas sobre a direção do episódio, o texto, a trilha sonora e outros aspectos mais técnicos (como a semelhança que salta aos olhos em relação a uma determinada cena de “Lost in translation”, meu filme preferido na vida) mas quando a coisa te toca (epa) num âmbito mais pessoal, o resto é detalhe.

Enfim, eu disse que o episódio levantou várias reflexões. Não ando muito boa com palavras, mas é mais ou menos isso que eu penso – não que alguém tenha pedido minha opinião.

Um adendo: esse episódio também foi fundamental para delinear a personagem. Humanizar Hannah. Ela não é uma garota chatinha sem motivo. Agora, sabemos os motivos que a levam a ser assim – e a não ser como ela é realmente é.

2 thoughts on “Aquele episódio 5 de ‘Girls’

  1. Primeiramente quando assisti o 5 ep de girls eu achei totalmente sem sentido e completamente inutil, ai que tive vontade de procurar a opnião de alguem, para tentar entender o que era tudo aquilo…. eu gostei muito da sua review sobre o episodio, fez muito mais sentido agora para mim (possivelmente vai contribuir muito mais na personalidade da personagem tbm), obrigado.

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