Área de interesse: pessoas

Dia desses tive que responder um questionário no local de trabalho, a título de auto-avaliação da minha performance enquanto funcionária da empresa. Acho todos esses mecanismos superdemocráticos até o momento em que a pessoa encarregada da avaliação externa derruba sua imagem de si mesmo e diz que não, naquele item que você se achava o máximo, sabe? Não é bem por aí. Ops.

Isso raramente acontece comigo porque tendo a me achar o mínimo em vez do máximo – quer dizer, depois de anos trabalhando isso na minha cabeça pelo menos cheguei a algo no meio-termo, o que sempre ajuda a evitar frustrações como essa. “Como assim não sou uma pessoa inovadora?”. Esse tipo de situação poucas vezes me pega de surpresa, normalmente imagino o “nossa, nego realmente acha que sou melhor do que eu sou, que loucura”. E assim seguimos bem, amigo-irmão caminhoneiro.

Enfim, digressionei bonito aqui. Voltando: estava respondendo o tal formulário quando me veio a pergunta “Área de interesse:”. Assim, sem nem se anunciar como pergunta, sem aquele ponto de interrogação simpático que já te faz começar a pensar na resposta. Área de interesse: dois pontos.

Qual minha área de interesse?

Tive que dar uma resposta prática, do tipo “editoria x” e “editoria y”. Mas fiquei com isso na cabeça e concluí que meu primeiro impulso ao ser questionada sobre isso novamente seria dizer pessoas.

Área de interesse: pessoas.

O que me interessa: saber que horas a senhorinha da banca de jornais da esquina acorda e começa a trabalhar. Ou por que aquela dona tá ali no bar bebendo cerveja às nove da manhã. Ou por que aquela moça sentada no banco do lado no metrô está chorando. E como aquele senhor ali conseguiu pintar aquela casa sozinho? E aquele ator, será que ele gostou mesmo de fazer aquele papel naquele filme ou foi só por dinheiro? O que aconteceu hoje que te deixou triste? Ou aquele policial ali na rua, como ele já fez amizade com a tiazinha que vende café? Será que o cobrador da van que sabe cantar todas as músicas da Britney Spears conseguiu ir ao show dela dia desses? A caixa do supermercado que foi destratada por um cliente idiota ficou triste? Como aquela dona consegue equilibrar um bolo, uma sacola e ela mesma na garupa daquela moto? E como o autor da novela consegue dar conta de escrever um capítulo e responder o email que mandei com um milhão de perguntas? E como você veio parar aqui? Como o Dan Harmon pensa e escreve um episódio de “Community”? Como aquele homem não tem vergonha de gritar com uma criança na rua? E aquele cara que estava naquela foto da morte do Kadafi, o que será que ele estava pensando naquele momento? O que toda essa gente tem a dizer sobre isso?

Essas coisas me interessam. O resto é formalidade, é só a gaveta onde a gente guarda tudo isso. Quer dizer, eu acho, né. A história das pessoas sempre me pareceu mais importante do que o espaço onde as arquivamos.

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