Atividades que socializam (e que não pratico)

Não gosto de comida japonesa. Já tentei. Juro. Mas essas coisinhas enroladas com peixe cru realmente não me descem. Com o tempo, comecei a perceber que, oh, não! Essa era mais uma das atividades que socializam das quais não faço parte. Tudo é empiricamente comprovado. Já testei várias vezes. Pense na cena: você encontra um amigo que não vê há tempos. Papo vai, papo vem, vocês têm que ir embora. Inevitavelmente ele há de dizer “vamos marcar alguma coisa? Vamos naquele japonês novo que abriu…”.  Ouse dizer “ahn, não gosto de japonês, mas podemos marcar em outro lugar…” e você verá, em seu interlocutor, a expressão de pena e lamento pela sua incapacidade de degustar essa delícia (NOT) da culinária mundial. Vamos à lista completa das atividades que socializam e das quais não faço parte – você pode estar nesse time também, junte-se a nós.

1. Restaurante japonês. No início, todos os amigos aceitam ir a lugares onde existam comidas que você gosta. Com o tempo, eles passam a sugerir bares onde as duas opções coexistem (embora eu ache que esse tipo de estabelecimento, à exceção de churrascarias, não inspira muita confiança).  No final, eles passam a te chamar de chata porque “todo mundo gosta de um japinha, como você não gosta? Já provou hot? Yakisoba?”. Querida, já provei tudo e não gosto, posso ter paladar infantil? Grata. 

2. Tomar café. Pode reparar: todo mundo que quer ser fino marca um café. É o equivalente ao restaurante japonês no mundo corporativo. “Vamos marcar um café?”, “Abriu um café ótimo perto do escritório”. O que vocês têm contra o chocolate quente? E um chá? Por que não um chá? Sem querer estragar o clima, você marca o café. E pede um chocolate. Ou uma água. ou, heresia das heresias, um refrigerante. Seu interlocutor estranha. “Você não bebe café?”. Não, amigo, eu sou a única repórter do Rio de Janeiro que não bebe café – e não sou menos confiável por isso. Posso pedir um Toddynho em paz? Obrigada. 

3. Andar de bicicleta. Quando você começa a se aproximar dos 30 anos passa a receber convites estranhos. Seu amigos que antes te chamavam para festas agora passam a convidar você para almoços, piqueniques, passeios de bicicleta. De preferência de manhã, no máximo às dez. Olha, não é porque estou velha que passei a gostar de acordar cedo. Mas o pior não é isso – você pode andar de bicicleta no fim da tarde, apreciando o pôr do sol na Lagoa, certo? Você pode se você SABE andar de bicicleta. Agora experimente dizer isso ao seu amigo sem receber de volta uma cara de espanto. “Você tem 30 anos e não sabe andar de bicicleta? Mas é tão legal, é tão fácil de aprender! Eu te ensino!”. Normalmente agradeço a generosidade e a boa vontade da pessoa amiga, mas olha, não aprendi até hoje, algo me diz que o que me falta é equilíbrio. E, mais uma vez, você percebe que está excluindo da sua lista mais uma atividade socializante. 

4. Fumar. Algo que nunca fiz questão de fazer. Mas sabe aquele momento da tarde em que todos os seus amigos somem do escritório? Eles estão fumando. E fofocando. E você, que não fuma, fica sentado na sua mesa, vagando pela internet. E quando eles voltam rindo você pergunta o que rolou e ninguém te conta. Infelizmente, fumar é uma atividade socializante. E em festas? Com as novas leis (ainda bem), ninguém mais fuma na pista. Seus amigos saem para a área reservada aos fumantes. E você fica com cara de bunda no bar, esperando o povo voltar. Normalmente alguma amiga sua já megasocializou com um gatinho no fumódromo, e sua cara de bunda certamente vai durar por mais tempo. Solução alternativa: acompanhar os fumantes e comprar um chocolate (aposto que quem criou aqueles Cigarrinhos de Chocolate não era fumante, era um pobre indivíduo que só queria socializar, coitado). Ainda assim, o questionamento óbvio “você não fuma? O que está fazendo aqui?” é inevitável. 

5. Ter filhos. Chega uma idade em que suas amigas começam a engravidar. E a ter filhos. E elas passam a formar uma incrível irmandade onde as crianças são o elo socializante. Você pode ter namorado, ser casada ou ter um rapaz que te ajuda: você não tem filhos e é vista como uma pessoa com uma vida social muito exótica – mesmo quando você só tem por hábito frequentar alguns restaurantes e ocasionalmente ir ao cinema à noite.  Veja bem, não estou dizendo que você deve ter filhos só para socializar: só estou atestando que as crianças agregam em torno delas uma comunidade de mães com um assunto em comum. “E você, quando vai ter o seu?”, elas perguntam, ansiosas. Resposta imaginária: “quando eu ganhar na MegaSena”. Resposta dada: “vamos ver, né?”.

3 thoughts on “Atividades que socializam (e que não pratico)

  1. Tati, eu não fumo (nos meus tempos de Caderno D, era A Excluída), não bebo café e odeio comida japonesa. Sei andar de bicicleta, mas não tenho uma e dispenso a ideia de alugar. Ok, tenho filhos. Dois! Ms juro que não pergunto quando ninguém vai ter!!! ;o)
    Beijos!

  2. Olá!!!

    Eu não sou jornalista, mas não tomo café, não fumo e também não tenho filhos, sei bem o que é isso.

    Temos que achar alternativas para nos socializar com esses indivíduos rsrsrs

    Bjus

    PS: Adorei o seu blog! ^.^

  3. Você é uma das únicas DUAS jornalistas que não bebem café, eu também não gosto. Mas bom saber que vou levar seu filho pra comer japonês e andar de bicicleta. Madrinha serve pra isso.

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