Eu, o taxista e uma manhã de sábado

Como sempre faço quando estou atrasada para os plantões mensais na firma, peguei um táxi faltando 10 minutos da hora em que deveria me apresentar na redação (lamentando, obviamente, os R$15 que gastaria ao fim da corrida). Bati a porta do carro e tive a impressão de que o sujeito não me era estranho. Depois, pelo tom agressivo da conversa, lembrei que era o mesmo taxista que uma vez foi de Copacabana à Cidade Nova reclamando de alguma coisa que não lembro bem. Enfim, digressiono.

Passamos por um jipe cheio de gringos, a caminho da agora pacificada Ladeira dos Tabajaras.

– Olha os gringos ali! Agora ficam procurando favela pra conhecer. Eu é que não pego essa gente. Eles não entendem que existe tabela. Aí ficam discutindo e só querem pagar o que tá no taxímetro.

– Pois é, mas é que eles leem nos guias antes de vir para cá que só vale o que está no taxímetro, lá fora o Rio tem fama de ter muito táxi pirata, né?

– Não pego e digo mais: se achar carteira ou coisa de gringo no meu carro, não devolvo. Já parei em delegacia por causa disso. Fui ajudar e disseram que eu tinha roubado! Esses fedorentos no meu carro não entram.

Continuamos a corrida. Daí ele me pergunta se sou jornalista. Fico sem jeito de dizer que não e confirmo.

– Desculpe a indiscrição, mas quanto ganha um jornalista? Quanto a senhora ganha?

Sem graça, achei por bem generalizar.

– Depende do cargo, moço. Chefe ganha mais, mas repórter, assim, sem ser recém-formado, que já trabalha há um tempinho, pode ganhar entre R$ 2 mil e R$ 2,8 mil.

– Filha, só de conta eu pago DOIS MIL E QUINHENTOS REAIS. Tiro por mês cinco, seis mil. Era faxineiro de um prédio em Copacabana, o síndico me demitiu, fiz questão de comprar apartamento lá. E de frente, melhor que o dele. Tem que me aturar!

Fico com uma certa cara de bunda pensando que não rodo pela madrugada nem corro o risco de botar malandro no meu carro, mas que ainda assim engulo tanto sapo quanto ele – quer dizer, não ele, que não guarda a língua na boca. Ainda tenho tempo para ouvir um último conselho:

– Filha, muda de vida enquanto é tempo. Faz um concurso público. Você é muito bonita e simpática pra ser jornalista.

7 thoughts on “Eu, o taxista e uma manhã de sábado

  1. jornalistas tinham que ficar felizes.
    já pensou se vocês fossem …

    …funcionário público???

    muito boa essa história.
    me faz lembrar que de vez em quando eu tenho vontade de ser taxista.
    na zona sul, quando chove, você não vê um táxi desocupado enquanto várias pessoas ficam acenando em vão.
    tenho a impressão que a procura é maior do que oferta.
    será?

  2. caralho! q taxista doido!

    eu acho q só peguei taxi duas vezes na minha vida. é muito caro. prefiro voltar da barra ou zona sul de van pirata. já fiz isso vááááárias vezes e volta pra NI por 6 reais.

    mas eu nunca gostei de falar sobre salário. eu não sou tímido. mas isso eu acho íntimo.

    vc lê o meu twitter, e bom, não acho íntimo ficar falando do meu pênis. mas e vc reparar, eu até parei. pegava mal.

    seu blog é foda!

    eu queeeeeeeeeero ser jornalista! mas poxa, não aguento mais ser pobre! hahahaha

    btw, eu bem falei pra Joss q eu era jornalista. hahahahaha

    adoro vc! beiJOSS!

    1. Olha, se tudo correr bem vou seguir o conselho dele mesmo, mas só em parte, Sarita :)

  3. depois de ficar deprimida diversas vezes, só converso sobre salário com pessoas que também são jornalistas. se estiver numa rodinha com outros profissionais, fico quietinha só escutando “fulaninho trabalha pra cacete e não ganha nem R$ 4 mil. por mês! assim não dá!” e coisas do gênero. tá lindo seu blog, tati ;-)

    1. E ainda assim, dependendo do jornalista, ainda dá pra ficar deprimida, Nat! Hahahaha :)

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